sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A pergunta da Lagarta

De acordo com o dicionário Aurélio, o agnósticismo diz respeito à uma crença da impossibilidade do conhecimento de algumas coisas ( são ditas incongoscíveis)
Algo pode ser considerado assim quando, por exemplo, não puder ser discutido racionalmente, por não poder ser conhecido. Uma das principais perguntas da humanidade poderia entrar em tal categoria: Quem sou eu?
A sua resposta nos escapa por vários motivos, mas principalmente três deles : proximidade, essência e negação voluntária.
A proximidade pode ser assim descrita: Não podemos responder a tal pergunta porque somos o alvo de nossas interrogações. A distância entre nós e a coisa estudada( nós mesmos) é nula, tornando inviável a imparcialidade quanto ao estudo realizado. Somos incapazes de formular as perguntas certas sobre tal tema por sermos nós mesmos o cerne da questão.
Em segundo lugar, não poderíamos analisar propriamente as possíveis respostas obtidas pelo exercício anterior, pois, ao fazê-lo estaríamos utilizando categorias inerentes à nossa própria experiência, inviabilizando a imparcialidade dos julgamentos feitos. Para se ter uma idéia clara, tomemos o seguinte exemplo: Quando um homem pré-histórico via a chuva, considerava-a mítica, mágica, atribuindo a sua ocorrência a manifestações de humor divinas, rituais, etc... Já o homem moderno a considera um fenômeno natural, decorrente das interações entre as massas climáticas, das propriedades físicas da água, entre outras coisas.
Diferentes situações ( espaço e tempo) possuem diferentes crivos e parâmetros para as mesmas questões. O homem ocidental moderno irá analisar-se a partir de seus valores ( ditos modernos e ocidentais), e o resultado de sua análise será algo que serve de resposta apenas a ele, não sendo po0rtanto algo científico, pois não é universal e atemporalmente válido, mas sim restrito a uma determinada situação.
Por último e não menos importante tem-se a questão crucial:Mesmo que pudéssemos saber , não queremos a resposta para o problema de quem somos. Sabemos que todos os problemas resolvidos são logo esquecidos e descartados, pois só são úteis até o ponto em que são insolúveis. A verdade é que o homem não quer realmente saber quem é, pois ao achar para si uma definição ele se limita, castra seus horizontes. E o desejo do homem é se projetar, crescer, expandir-se até a eternidade ( como na Torre de Babel em Gênesis).
No livro de Lewis Carroll "Alice no País das Maravilhas" , Alice não consegue responder a pergunta da Lagarta: Quem é você? E como ela, nunca iremos poder respondê-la. Porque só poderemos fazê-lo quando morrermos, quando tivermos chegado ao fim de nossa existência, sendo tarde demais para que se cogite a resposta.

Um comentário:

thiago s. cardoso disse...

estou de volta, lendo seus textos, tecendo os meus... vc sempre erudito... e o livro de poesias? quando sai ou já saiu? abraço
ah, tou de blog novo: PULE NO RIO